Sexta-feira, 5 de Agosto de 2011
Swing em Portugal

Apesar de recalcado, camuflado, escondido, não assumido e negado socialmente, o swinging é um fenómeno presente em Portugal há muitos anos.
O despertar para a nova interpretação sobre o mesmo, e consequente abordagem, tanto quanto apuramos, ter-se-á dado devido ao casual regresso dum desses emigrantes.

Estamos em 1960. Silva (nome fictício) é filho de pais portugueses, oriundos do Norte do país e emigrados para os EUA pela mão dum casal americano que passava grandes temporadas de férias naquela região. Tem 31 anos, casado com uma cidadã daquele país. Não tem filhos.
Por força dos relatos que os seus pais contavam à esposa, esta começou a pressionar Silva para uma viagem de encontro com as suas raízes.
Em meados de Maio desse mesmo ano, cede às pressões da esposa e vem mostrar-lhe as suas origens portuguesas, as quais ele próprio desconhece.

Em Portugal apaixonam-se por uma quintinha no Alto-Minho, na própria terra do pai. Em Julho já a tinham comprado e iniciado com as obras de restauro necessárias. Tornaram-se muito amigos de dois casais, com os quais passaram a conviver muito. (Vamos chamar-lhes ficticiamente de: casal Torres e o casal Pinto)
Quando efectuaram a compra da propriedade estava já implícita uma mudança radical nas suas vidas: voltar aos EUA, desfazerem-se dos seus haveres naquele país e regressar a Portugal com o objectivo de explorar a sua propriedade, rentabilizando os seus ricos vinhedos.
Este regresso aos EUA deu-se em princípios de Setembro desse ano. Em Fevereiro de 61 já estavam de volta. Os casais Torres e Pinto responsabilizaram-se pela quinta, e por todos os assuntos pendentes que a ela diziam respeito.

Habituados à agitação das cidades americanas e da qual também pretendiam fugir, depressa constatam que o isolamento em que estavam agora inseridos era terrível. Apaixonados pelo local, decidiram organizar pequenas festas de convívio, matando assim, como eles mesmo dizem, dois coelhos de uma cajadada só: afastar o isolamento e criar mais laços de amizade (o que na altura mais lhes faltava).

Estas festas reforçaram os laços de amizade dos Silva com os Torres e os Pinto, permitindo maior intimidade, facilitando a abordagem de temáticas mais "sensíveis" para a época, como eram os casos da sexualidade, das fantasias sexuais e das diferenças culturais
A pouco e pouco, essas temáticas tornaram-se no centro principal das conversas entre os três casais, ao mesmo tempo que o ambiente de descontracção e de cumplicidade crescia.
Em determinada altura, como que comprovando aquilo que diziam, os Silva passam para as mãos dos casais amigos portugueses dois álbuns de fotos suas nos EUA. Ainda hoje se riem da cara que estes seus amigos fizeram quando os folhearam e, no entanto, os álbuns apenas continham alguns, poucos, topless da esposa e outras mulheres de casais amigos na piscina da casa que tinham nos EUA. Nada de mais arrojado.

Em finais do mês de Julho e num dia quentíssimo, em brincadeiras tipo "quem tem coragem", e após alguns copos de bom vinho da adega privada, fazem-se à piscina em nu integral. Foi, segundo dizem, o início de tudo. Desde esse dia, aquela piscina não mais conheceu qualquer tipo de fato de banho.
Passadas poucas semanas, aquando de uma visita não esperada de outro casal amigo, este último depara-se sem querer com a situação. Depois do embaraço inicial dos então já despidos, os recém chegados riram-se e, aproveitando a embalagem, despem-se e enfiam-se igualmente na piscina. O pequeno grupo era agora formado por quatro casais: aos três iniciais, juntam-se os Marques.

Escusado será dizer que "amigo traz amigo" e nos finais desse verão, o "grupo da piscina" ultrapassava a dezena. Com o arrefecer dos dias, os seus convívios passaram para o "salão da lareira" e, numa determinada noite, novamente em conversa sobre o mesmo tema, dois dos casais presentes manifestam abertamente o interesse de ultrapassarem as barreiras e tentarem realizar algumas das suas fantasias. Não só o admitiram como passadas umas horas, realizaram.
A confissão posterior deles chocou um pouco alguns dos então presentes mas, como a curiosidade é a mãe de muitas coisas, refeitos do choque inicial, submetem os confessos a questionário intenso.
Certa noite, os Silva convidam oito casais. No final do convívio, conclui que unicamente três dos casais presentes ainda não tinham passado à prática.
O salão da sua casa é então rebaptizado com o nome de "o santuário". Era assim que a ele todos se referiam quando, de forma a não serem entendidos por quem os cercasse, pretendiam fazer abordagens sobre qualquer noite ou convívio. "Eram os piqueniques no santuário".

No decorrer do ano seguinte esse grupo contava já com bastantes casais e obviamente que o "santuário" tornava-se pequeno. Optam então por realizarem jantares pelos restaurantes do Alto Minho, mudando de restaurante a cada jantar e ficando este circuito conhecido entre eles pelo nome de "Circuito do Alto Minho". Este circuito fez-se durante alguns anos mas, atendendo às incompatibilidades das distâncias habitacionais dos casais, estes convívios foram-se centralizando unicamente em alguns restaurantes e discotecas.

Foi esse centralizar que originou o desmembramento gradual do grupo. Os seus encontros foram tornando-se aos poucos do conhecimento público e começavam a surgir rumores na boca do povo sobre os mesmos. Como muitos desses casais eram pessoas muito influentes da região e tais rumores colocavam quer os seus cargos, influências sociais ou ainda a sua harmonia familiar e privada em causa, vão-se afastando, optando por não comparecer nesses encontros.

O casal Torres e os Silva relembram essa altura com uma certa mágoa:"Todos nós éramos muito amigos e felizes. Sem excepção, todos nós tomávamos cuidados extremos de forma a não chocar os valores culturais e sociais implantados então na restante sociedade e ainda, de forma a preservarmos o nosso segredo, a nossa privacidade. Quando vimos o zé-povinho iniciar rumores pouco dignificantes para com os elementos destes casais, embora sem conseguirem apontar os nomes, logo aí verificamos que o desmembramento seria rápido. Assim, antes que o bom nome das pessoas envolvidas fosse colocado em causa, estes convívios foram deixando de fazer-se aos poucos. Mas não pensem que haviam só Srs. doutores e engenheiros ... riem... havia de tudo: médicos, engenheiros, advogados, comerciantes, industriais e até trolhas e pedreiros. Como vêem, nunca valorizamos a condição social da pessoa mas sim o seu carácter e honestidade".

No entanto aquilo que aparentava significar o fim, de facto não foi. O grupo tal, como era composto, desfez-se mas deu lugar ao surgimento de vários centralizados por focos habitacionais. No fundo, aquilo que se tinha passado não era mais que a subdivisão da unidade em várias células e, com o passar do tempo, estas não só iam aumentando em quantidade como também no número dos seus elementos. Pasmem-se... chegava a haver convívios entre células!!!... e dizemos "convívios", pois eram exactamente isso mesmo. Serviam para apresentações e o estreitar de possíveis relações de amizade. Havia uma organização, sem que ninguém cuidasse dela, também estruturada, que era praticamente inexpugnável, que não permitia a aproximação do então chamados "ratos" (os agora chamamos de penetras, espreitas, curiosos ou outra designação qualquer).

"Para terem uma ideia da quantidade de pessoas envolvidas nesta onda - dizem-nos ainda os Silva e os Torres rindo - um casal nosso amigo decidiu oficializar e legalizar a união que já mantinham há oito anos. Daí, convidam unicamente casais do seu novo circulo de amizades, isto é, swingers. Valeu o facto do copo de água ter sido pensado para uma propriedade de amigos comuns, pois nessa cerimónia estiveram presentes 134 casais".

Mas que procuravam estes casais no swing nessa altura? Numa época em que as mentalidades eram tão fechadas, em que existiam imensos complexos, preconceitos e tamanhos tabus, que procuravam todos estes casais?... Pelas palavras dos nossos anfitriões: Em síntese, procuravam aquilo que a todos falta e muito poucos têm coragem de assumir e admitir. "Sem excepção, todos têm fantasias eróticas e sexuais e a não concretização destas origina indivíduos frustados, infidelidade, famílias desfeitas, casais tristes e desajustados socialmente. Estas pessoas ou casais nunca saberão o que significa realização pessoal, gosto em conviver socialmente e a dimensão do prazer que pode ser retirado ao formar-se um casal".

Foi poucos anos antes do 25 de Abril de 1974, não se sabendo precisar quando, que estes grupos se estenderam para o sul do país. Os primeiros, tanto quanto se conseguiu apurar, surgem nas zonas do Estoril e Sintra e pelas mãos dum casal minhoto (ele era um conceituado engenheiro que por motivos profissionais vai viver para Cascais), e outro de Sintra, colega e amigo do primeiro, ambos descendentes dos convívios das células nortenhas.

Passados poucos anos após o 25 de Abril, a comunidade swinger no sul estava já muito desenvolvida, mais precisamente a Lisboeta, onde ficou muito conhecida no seio da comunidade swinger uma certa discoteca na Linha do Estoril, por sinal também frequentada pela classe média-alta, sem que no entanto nunca ninguém externo ao swing o soubesse. Era na altura o local de encontro dos swingers lisboetas e do sul.

Verdadeiramente e com a dimensão que hoje conhecemos, o desenvolvimento do swing português deu-se após a revolução de 1974, tendo como factor preponderante o deslocamento de certos profissionais liberais para sul, com destaque para as classe médica e de enfermagem, políticos, construtores civis, engenheiros e prestadores de serviços.
Apesar de terem sido casais oriundos do norte e destas categorias profissionais que fomentaram o swinging também a sul, há que salientar que, com o decorrer do tempo e causalidade da abertura das mentalidades provocadas pelo 25 de Abril, os swingers incorporam agora as mais variadas categorias profissionais e status sociais. Os seus elementos vão do simples trabalhadores por conta de outrém às mais elevadas carreiras profissionais, estimando-se que só cerca de 40% desta comunidade se sirva da Internet para estabelecer contactos entre eles.

Fonte: swplace.home.sapo.pt



publicado por MartaMario às 12:24
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De Anónimo a 24 de Dezembro de 2012 às 13:18
http://amadorastugasxxl.blogspot.pt/


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De
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